Estancia Cristina, na Patagônia Argentina, um hotel único e autêntico para visitar uma vez na vida.
Quando surge a oportunidade de uma viagem, gosto de pesquisar sobre o local para me inteirar sobre sua história, cultura, gastronomia e atrações. Digo que viajo três vezes: no planejamento, durante a viagem e organizando as fotos dos momentos registrados.
No entanto, quando recebi o convite da Roberta Leroy para explorar a Patagônia Argentina, eu estava correndo com uma programação de viagens intensa e o planejamento do meu ano sabático na a Ásia. Fiquei fascinada com o roteiro proposto, mas, confesso, não tive tempo de fazer sequer uma rápida busca no Google.
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E esta foi a minha maior sorte. Sem noção do que encontraria pela frente, além de conhecer o Glaciar Perito Moreno e Ushuaia, a cidade do fim do mundo, as descobertas ao longo dos dias foram tão surpreendentes, que me marcaram fundo na alma.
Chegamos em El Calafate às três da tarde num voo com escala curta em Buenos Aires. Da janela da aeronave vislumbrei a água verde-leitosa do rio escorrendo entre as terras áridas das estepes argentinas em direção ao Lago Argentino. Primeira cena patagônica registrada na memória.
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Passamos dois dias nos envolvendo com o espírito patagônico no Hotel Eolo, experiência única que contei no artigo Eolo Patagônia, hotel boutique dos sonhos. A passagem por El Calafate é essencial para conhecer o vilarejo e o Glaciar Perito Moreno.
Hora de seguir para a segunda etapa da viagem.
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Cruzeiro pelo Lago Argentino, rumo ao Glaciar Upsala
Logo cedo, o carro da Estancia Cristina, nosso próximo hotel-destino, pontualmente nos aguarda para o transfer até o Porto Punta Bandera, na margem do Lago Argentino. O sol ainda se esconde atrás das nuvens e o vento gelado da primavera indica que é melhor me acomodar nas poltronas dentro do barco. Duas embarcações modernas de propriedade da Estancia nos aguardam e somos as últimas a chegar.
As três horas de navegação voam enquanto subimos o Canal Upsala. Me distraio maravilhada com o tamanho titânico dos icebergs flutuando que se desprenderam das geleiras e seguem a correnteza até o Lago Argentino.
Encaro o frio, intercalando meu tempo na popa do barco entre fotografar e apreciar o cenário que se descortina. As montanhas andinas cobertas de neve no topo quebram a linha do horizonte e o céu azul parece decorado com nuvens em formações atípicas para o clima tropical brasileiro.
Glaciar Upsala, uma das maiores geleiras da América Latina
O barco enfim reduz a velocidade e a guia da Estancia Cristina aponta o Glaciar Upsala ao fundo. Ela avisa que esta é o ponto de aproximação máximo dele por questões de segurança. Difícil mensurar a imensidão desta que já foi a maior geleira latino-americana. Em virtude do seu derretimento acelerado, caiu para a terceira posição e nem por isso deixa de ser grandiosa.
A guia relata fatos e importância de Upsala mas boa parte das pessoas a bordo estão admirando e fotografando o mundo de gelo. Ela explica que geleira significa gelo em movimento e que Upsala é três vezes maior que Perito Moreno, mas está perdendo 200m de sua área ao ano. Não é surpreendente descobrir que entre 100 e 200m de profundidade no glaciar, encontram-se fósseis de 200 milhões de anos.
Viaje mais: Glaciar Upsala: 6 motivos para ir agora
Chegada à Estancia Cristina
Outra meia hora de cruzeiro, o barco converge para um vale e aporta num singelo pier. No pé das altas montanhas, as cabanas da Estancia Cristina parecem casinhas de boneca ao longe, abrigadas dentro do Parque Nacional Los Glaciares. Silêncio, vastidão, serenidade, um encontro com a natureza. Ao lado da placa de boas-vindas do lodge, três funcionários nos recebem sorridentes.
Seguimos de carro até a casa principal, o Octógono, para o check-in informal e suco natural de abacaxi como welcome drink para mim. Ansiosa para colocar os pés para cima, peço para conhecer o quarto.
A suíte para se embeber do cenário patagônico
A Estancia Cristina tem cinco cabanas com quatro suítes em cada um deles. A nossa se chama Estepa, em homenagem à maior ecorregião da patagônia. A charmosa varanda típica de fazenda tem janelas e portas envidraçadas que refletem a paisagem como num quadro e convida para apreciar a natureza no fim da tarde. Magia pura. Será meu programa hoje.
Entramos pela sala de estar comunitária onde móveis rústicos em tons pastéis integram-se harmoniosamente com o entorno. Em cada lateral, uma porta leva a duas suítes de 31,5m2 cada uma. Ambiente acolhedor, um aroma delicioso no ar, me sinto na casa de fazenda de minha avó.
A grande janela bay-window me hipnotiza no primeiro segundo e meus olhos não acreditam na estonteante vista que se abre para o vale e os picos nevados ao fundo. Me aninho na poltrona de tecido xadrez e me permito momentos de contemplação. Uma experiência multissensorial singular.
Não sei quanto tempo se passou e não importa. Entendi que neste lugar o relógio é desnecessário. Volto meu olhar para o interior e noto os detalhes da suíte. O criado mudo antigo na cor verde apoiando o diminuto abajur, a colcha de lã tecida artesanalmente cobrindo o pé da cama e o grande espelho adornando a parede. Elementos verdadeiramente patagônicos.
Galeria de Fotos da Cabana
No banheiro, a bancada verde combina com o criado mudo do quarto. Toalhas brancas acondicionadas em cestas quadradas de vime, amenidades personalizadas da Estancia e uma banheira clássica para relaxar após o dia de atividades.
Tudo muito simples e agradável. Penso que numa região tão isolada e imersa na natureza, é exatamente isso o que as pessoas buscam: singeleza, conforto e tranquilidade para se reconectar consigo mesmas e com a beleza imponente da região.
Gastronomia patagônica em pratos gourmet
As refeições são servidas no Octógono, o coração da Estancia Cristina. É aqui o ponto de encontro de hóspedes e guias e onde as atividades acontecem. A lareira no centro do salão traz o aconchego para os visitantes se reunirem, lerem um bom livro, degustarem um chá quente ou um bom vinho. Este é o único lugar com acesso à internet, mas para entrar no clima, decidi decretar férias das redes sociais. A melhor oportunidade para um detox tecnológico.
Inspirado na culinária regional patagônica, o menu autoral sazonal combina sabores de ingredientes frescos e selecionados, muitos produzidos na própria fazenda, e apresentação cuidadosa. Pães caseiros fresquinhos, empanadas, batatas andinas, ojo de bife e doce de leite são os clássicos argentinos presentes no cardápio.
Destaque para o Cordero al Asado e salmão ao molho balsâmico reduzido e cebolas assadas. As sobremesas panqueca de cacau com doce de leite e pralinés e a torta úmida de chocolate com sorbet de frutas vermelhas justificam quebrar qualquer dieta.
A carta de vinhos lista rótulos nacionais de diferentes regiões da Argentina e são ótimos para saborear em conjunto com uma tábua de queijos ao entardecer. O sol demora a se esconder na primavera, por volta de nove da noite. Então, escolha uma mesa à janela no Octógono e acompanhe o céu e as montanhas mudarem de cor de branco para laranja, vermelho e azul antes de sumirem na escuridão.
Explorando a Estancia Cristina
Graças à privilegiada localização dentro do Parque Nacional Los Glaciares, a Estancia Cristina é um hotel-destino. Daqueles lugares para onde você vai e não precisa se preocupar em organizar um roteiro de atividades. O lodge oferece diversas experiências guiadas ou não e estão incluídas no valor da diária.
Passeio de 4×4 até o Mirador Upsala, cavalgadas, caminhadas, trilhas e pescaria são algumas das opções. Cerca de 120 a 150 visitantes chegam de barco na estância para um day-use. Eles usufruem da estrutura turística da estância, mas não notei o movimento. Dividem-se em grupos pequenos para explorar as atrações naturais nos 22 hectares de terra e não se aproximam do Octógono ou das cabanas, exclusivos para hóspedes.
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Mirador Upsala, único acesso ao Glaciar por terra
O programa mais esperado é o do Mirador Upsala. A Estancia Cristina é o único lugar de onde podemos chegar por terra para ver a geleira. A camionete do lodge atravessa o Rio Caterina, bosques e sobe a encosta da cordilheira andina. Seguimos uma trilha em meio às rochas coloridas revelando quão inóspita é a região.
Lá no topo me deparo com uma vista estonteante. À direita, o imenso Glaciar Upsala parece escorrer seu gelo no Lago Guillermo de azul profundo, cercado de picos nevados. Guardo esta pintura natural na memória.
Sentamos para ouvir o guia discorrer uma aula de história, geologia, sustentabilidade e arqueologia com este cenário inebriante ao fundo. Como hóspedes, subimos ao mirante antes dos turistas diurnos e desfrutamos do momento de contemplação com exclusividade.
Na volta, podemos escolher descer a trilha entre cânions e fósseis milenares que leva cerca de três a quatro horas ou retornar com o guia no carro. Analisei a força do vento gélido primaveril e desisti da caminhada, prometendo uma segunda visita durante o verão.
Cerro Carnero, trilhas com vistas imbatíveis da Cordilheira dos Andes
Na manhã seguinte, me encorajei a fazer a trilha para subir o Cerro Carnero, com 600m de altura. Passamos por cachoeiras, regatos e quanto mais subimos, mais surpreendente é a vista. A estância vai sumindo no vale e o lago glacial verde se destacando.
Do alto avistamos o Lago Cristina, a Cordilheira dos Andes, o Campo de Gelo Patagônico Sul, o Glaciar Upsala e os icebergs que se desprenderam dele e correm para o Lago Argentino. O dia ensolarado e o céu azul contribuíram para a vista de tirar o fôlego. Mais um momento registrado para minhas lembranças.
No retorno, uma pausa no Quincho, o galpão restaurante com vista 360º dos arredores, para provar a famosa torta de maçã. A atendente confidencia que este é o lugar mais bonito para apreciar o por do sol. Anotação mental feita para a próxima visita, porque hoje é meu último dia na estância.
Precisaria de mais dias para caminhar no bosque até a cascata Los Perros, conhecer a capela e descobrir outras áreas a cavalo. Estou no modo descanso e preferi não lotar a minha agenda com passeios, a fim de curtir a tranquilidade desse lugar tão ermo e divino. Porém, não deixaria a estância sem antes conhecer sua história.
Museu Costumbrista, conhecendo a vida patagônica
Ao lado do Quincho, no antigo galpão de tosquia de lã, o museu abriga objetos e móveis originais da propriedade. A guia conta a história da família e o início da Estancia Cristina como hospedaria.
Descubro que estâncias são identidades patagônicas protegidas culturalmente. O termo refere-se aos refúgios construídos por desbravadores estrangeiros que chegaram na região no início dos anos 1900 em busca do ouro que nunca existiu. O mineral encontrado era a pirita, conhecido como “oro del tonto” em virtude de sua cor amarela e brilho metálico.
Essa notícia atraiu o marinheiro inglês Joseph Percival Masters, que acabou se instalando aqui com sua esposa em 1914. O governo argentino prometia aos pioneiros grandes terras por custos mínimos.
No meio desse processo, o Parque Nacional Los Glaciares foi criado e eles nunca se tornaram donos da terra, mas ganharam permissão hereditária para ficar. Criaram gado, cavalos e chegaram a ter 27 mil ovelhas, principal fonte de renda.
A estância leva o nome de sua filha Cristina, que sucumbiu à pneumonia ainda jovem. O isolamento da fazenda tornava o acesso ao vilarejo muito demorado e a menina não resistiu.
Os primeiros hóspedes foram expedicionários, científicos e escaladores nos anos 80. Eles eram recebidos por Janet Herminston, viúva de Herbert, o segundo filho do sr. Masters. Foi a maneira que ela encontrou de aumentar a receita para pagar as contas da propriedade. A notícia se espalhou e especialistas do mundo inteiro vinham estudar os achados arqueológicos e paleontológicos. O caminho para a subsistência da estância estava aberto.
A Estancia Cristina hoje
Hoje o lodge é gerenciado por empresários e mantém o espírito de outrora. Entendi o grande segredo que me fez mergulhar no modo de vida patagônico de maneira tão singela e verdadeira. A estância se adaptou à natureza, interagindo com ela em seu estado mais puro, sem alterar o ciclo natural da vida. A interferência humana foi mínima.
Me despeço agradecendo a oportunidade dessa vivência única. Vou embora com a certeza de que a Estancia Cristina consegue entregar aos hóspedes a sua essência: clima hospitaleiro num cenário singular no mundo com tranquilidade imensurável onde se preserva a história local.
Não surpreende saber que integra o exclusivo portfólio de hotéis únicos SulHotels e a National Geographic Traveler a elegeu um dos hotéis mais autênticos e únicos na América do Sul em 2011.
Estancia Cristina, hotel exclusivo onde o luxo está na simplicidade
Quando ir à Estancia Cristina
A Estancia Cristina abre suas portas de 15 de outubro a 15 de abril e fecha durante a temporada de outono- inverno (16 de abril a 14 de outubro)
Localização
A Estancia Cristina se localiza a noroeste de El Calafate, a 3h de barco desde o Porto Punta Banderas.
Como chegar à Estância Cristina
A Estancia é acessível apenas de barco.
São três horas de voo até El Calafate, partindo de Buenos Aires.
Ao chegar na cidade, o carro do lodge leva os hóspedes até o Porto Punta Bandera, o trajeto leva cerca de uma hora. Em seguida, são mais três horas de navegação pelo canal do Lago Argentino. O passeio em meio a cenários lindíssimos já te coloca em contato com o espírito patagônico.
Quanto custa a diária na Estancia Cristina
Diárias a partir de USD 683, pensão completa.
O que está incluído na tarifa
Traslado de ida e volta do aeroporto ou hotel em El Calafate até o Porto Punta Banderas;
Navegação de ida e volta entre lagos e paisagens estonteantes e parada próxima ao Glaciar Upsala para contemplação;
Hospedagem com pensão completa;
Bebidas não alcóolicas;
Atividades dentro da Estancia Cristina;
Entrada ao Parque Nacional Los Glaciares.
Quem leva à Patagônia Argentina
A Leroy Viagens cria roteiros especializados para a Patagônia Argentina. Entre em contato:
Roberta Leroy – roberta@leroyviagens.com.br
Fones e Whatsapp: 31 3143.1473 | 31 99119.1473
Site: leroyviagens.com.br
Dicas de viagem à Patagônia Argentina
Combine a viagem à Estancia Cristina com as cidades El Calafate, El Chaltén e Ushuaia.
Adriana Lage viajou a convite de Leroy Viagens e do hotel e somente aceita convites quando tem total liberdade para escrever sobre sua experiência.
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